Muito grave questão ergue- se no tempo presente entre as pessoas que querem ter o nome de católicas e ser membros da única verdadeira Igreja Católica. Pio XI afirmou que o Ecumenismo é: “uma falsa religião cristã”, que “perverte o conceito de verdadeira religião” (Mortalium animos). Entretanto o Concílio Vaticano II trouxe “doutrinas novas”, coisa vedada a um papa ou Concílio (D.S. 3070). Trouxe um “novo humanismo” subjetivista e relativista, com o “culto do homem”, como o afirmou o Sr. Montini, no Vaticano, em 07.12.1965. Dele se seguiu uma “nova igreja católica”, com reformas universais em tudo, com base na liberdade e igualdade religiosa, numa união universal da humanidade, “ecumênica”, de todas as religiões, num “poder supremo colegiado” de representantes de um novo “povo de Deus”; com um culto ecumênico agnóstico, quer quanto aos agentes, quer quanto à sua forma, quer quanto conceito ecumênico de Deus, igualando o verdadeiro aos falsos.
Tais novas doutrinas são opostas ao Magistério universal de 260 papas e 20 Concílios, critério infalível de verdade natural e cristã na Igreja. Ele é transcendente aos tempos e às cabeças humanas, até de papas e bispos que preguem o contrário. A universalidade da verdadeira doutrina católica é perene e perpétua (D.S. 3020). Não é só questão de nome, mas de verdade do credo idêntico, não contraditório.
Mas as “doutrinas novas”, do “novo humanismo” agnóstico, atingiram tudo, mudando os fundamentos da Filosofia racional que levam à Teologia revelada, com a “fé universal, comum a todos, clérigos e leigos” (São Nicolau I – D.S. 639). O Realismo da Filosofia da Igreja foi substituído pelo Agnosticismo, pretensa “Filosofia Moderna”. E isso alterou a Criteriologia da verdade: de universal para individual; e de necessária para livre.
Por isso temos duas religiões opostas dizendo-se: “a única verdadeira”. Temos duas dizendo-se “fiel ao espírito evangélico” (12.1). Mas a nova acusa a Igreja Católica de ser “contrária ao espírito evangélico” (12.3), enquanto que a Igreja Católica acusa a “nova religião” de “perverter o conceito de verdadeira religião” e de ser “uma falsa religião cristã” (Pio XI).
A liberdade individual da verdade religiosa opõe-se à necessidade universal da verdade religiosa. As operações da razão humana não são livres quando discriminam entre verdade e erro. As operações naturais dos órgãos sensitivos humanos não são livres quando discriminam entre seres idênticos e não idênticos, mas contraditórios. Entretanto a “nova igreja”, com “doutrina nova”, com “novo humanismo” vem afirmar que:
“A Igreja, fiel à verdade evangélica, segue o caminho de Cristo e dos Apóstolos, quando reconhece e favorece a causa da liberdade religiosa como conforme com a dignidade do homem e com a revelação cristã” (Dign. humanae, 12.1). Aí está a primeira raíz da sua heresia.
Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII, São Pio X, Pio XI e Pio XII e outros papas contestam tal afirmação. Tal liberdade indiscriminada: “não discrimina” entre verdade e erros (6.7); quer o direito de agir “não seguindo a verdade” (2.9), fundando isso num “falso conceito de dignidade da pessoa humana”, autônoma e independente da devida subordinação ao poder supremo do único verdadeiro Deus (São Pio X – Notre charge apostolique).
Essa liberdade antepõe a vontade livre à razão não livre, coisa oposta à Filosofia católica (D.S. 3621). E é essa razão não livre que “precede à fé e deve nos levar a ela”, ensinou a Igreja contra a heresia do Fideísmo (D.S. 2755). Donde, colocando-se a liberdade individual na frente da razão necessária e da Revelação divina, universal e necessária, tudo dependerá da “liberdade psicológica” de cada um (2.7) e não da verdade lógica, necessária e universal, e não da fé verdadeira, necessária e universal.
Desse modo “todo poder virá do homem” e não de Deus. À monarquia de Direito divino na Igreja sucederá uma Democracia agnóstica, de “direito” humano, não submisso, mas contrário ao Direito divino do único Deus verdadeiro.
Desse modo o “juízo próprio”, livre, de cada um (11.2), substituirá aos mandamentos e deveres “coativos” da autoridade divina de Cristo-Deus. E a Sede de Pedro, do Vigário de Cristo, será agora a sede do “Vigário do povo”, do “representante das igrejas”, das “comunidades eclesiais de base”, dos “conselhos dos presbíteros”, dos “presidentes de assembléias celebrantes”.
É evidente que tal “nova igreja” “separou-se da Igreja pela natureza do seu delito” (Pio XII – D.S. 3803), pela “subversão” condenada pelo Direito divino (Tit. 3,10-11). Isso pela sua “doutrina nova” (D.S. 3070), pelo seu “critério próprio livre” (11.2), “ipso facto”, “sem qualquer outra declaração” (Cânon 188,4). Os que instituíram essa “nova igreja” : “defeccionaram publicamente na fé”, afastaram-se do Direito divino e do Magistério universal e necessário da Igreja. Donde não são mais membros da Igreja Católica e, por isso, nem também seus “membros principais”, papas ou bispos (D.S. 3804). Já não têm o poder divino de jurisdição de Cristo pois antepuseram o próprio livre arbítrio e o “próprio juízo” ao de Cristo. Fundaram “nova igreja” diversa da de Cristo, “contrária” à da verdade universal necessária da fé. E o que for contrário à verdadeira fé “é falso”, definiu Leão X (D.S. 1441).
Essa liberdade religiosa, ensinou Gregório XVI: “tem origem na conspiração das sociedades nas quais, como em imensa sentina, se reúnem as seitas de todos os tempos, com suas heresias. Com ela julgamos que realmente já está aberto o poço do abismo (Ap. 9,3), do qual viu São João subir uma fumaça que obscurecia o Sol e que lançava gafanhotos que devastavam a Terra” (Mirari vos, 10.4).
Nessa liberdade religiosa São Pio X viu “o prólogo dos males dos fins dos tempos”, do anti-Cristo, “do homem do pecado no Templo de Deus” (2 Tess. 2,1-11). (E supremi apostolatus).
E Leão XIII viu a mão de Satã no próprio Vaticano (Exorcismo).
O Apocalipse profetizou “a grande Babilônia”, a “grande prostituta” (Ap. 18). Daniel profetizou a supressão do “Sacrifício perpétuo” no tempo da “abominação da desolação no lugar santo” (Dan. 12,11). Cristo preveniu sobre isso e ordenou a perseverança na fé para a salvação (Mt. 24).
O que se realiza atualmente é a profecia de Isaias, a “grande inversão”: “chamam ao mal de bem e ao bem de mal; colocam as trevas como se fossem a luz e a luz como se fosse as trevas” (Is. 5,20). É a “nova ordem dos séculos”, da “nova idade”, do “novo humanismo”, com a “liberdade íntegra, em sumo grau” (7.7), sem os limites da verdade ; com o “arco-íris” da “liberdade promíscua” para todas as falsidades e para todos os erros, “sem discriminação por razões religiosas”, como escreve o Vaticano II (6.7).
Agora, cada um, livremente: “ordena-se a si mesmo por sentença do seu próprio espírito” (3.10), não pela verdade universal necessária; não pelos mandamentos coativos de Deus e da sua Igreja. É a “operação do erro” de Satã para os que não amam a verdade (2 Tess. 2,1.11).
A História da Igreja, de Lutero até Pio XII, mostra-nos a intensificação da luta dos inimigos da verdade contra a Igreja. A Revolução de 1789 destruiu o Estado católico e martirizou centenas de milhares de ovelhas de Cristo. Mas o Plano da Maçonaria italiana, de 1819, quis tomar a direção suprema da própria Igreja. Lamennais quis introduzir a liberdade agnóstica na própria Fé, fraturando a universalidade da única verdadeira Fé. Loisy quis introduzir essa liberdade na Teologia, na Filosofia, dentro da Igreja. Marc Sangnier quis introduzi-la na Política: cada um com “seu caminho” (son sillon), sem a hierarquia de Direito divino. Albert Einstein quis: “expulsar da Física” a uniformidade da verdade absoluta e instituir o “sistema arbitrário”: “cada um com sua verdade para si”, com “o direito de referir tudo ao seu sistema”, “sendo impossível afirmar quem está certo” e sendo todos “igualmente consistentes”; “todos igualmente bons ou maus” ; sem discriminação, sem “padrão único” de verdade. É o mesmo Relativismo agnóstico do Vaticano II “sem favorecer iniquamente a uma parte”. O Concílio também afirma isso. Ambos querem uma “nova Ciência”, e “nova religião” : “mais universal” do que a única verdadeira.
Agora a Igreja e os erros são “partes” iguais da universalidade ecumênica, que “não discrimina” entre verdade e erros. As “opiniões” falsas viraram “verdades” individuais. A liberdade “promíscua” admite igualmente a prostituição de todas as falsas igrejas, que não são a única Esposa de Cristo, ilibada, imaculada e santa, fundada só na verdade (D.S. 3070). Agora a “nova igreja”, defende o “direito de não seguir a verdade” (2.9), isto é, como o advertiu Pio IX: o direito de “combater a verdade” (Quanta cura), de lutar pela destruição da “única verdadeira religião”. Cada um com suas “normas próprias”, com “sua fé”, “movido pelo seu próprio sentimento religioso” (4.9), como pretendeu o Agnosticismo de Loisy.
Donde aqui estudamos a vacância da Sede de Pedro fundados no afastamento da “nova igreja” quer da Filosofia racional aprovada pela Igreja Católica, fundada na verdade universal e necessária; quer do Magistério universal, relativo à fé universal, fundado na autoridade divina de um só Deus verdadeiro, na monarquia de Direito divino da Sede de Pedro. “Perecerá eternamente quem não possua a fé católica, íntegra e sem macha”; é o Símbolo atanasiano repetido por Gregório XVI (Mirari vos) . Quem estiver contra a universalidade desse Magistério, ou o faz por simples imperícia, ou já é herege, cego condutor de cegos.Donde, são não verdadeiros mas falsos “tradicionalistas” os que, seguindo opiniões humanas de Campos ou de Ecône, separaram-se do Magistério universal da Igreja sobre fiéis e infiéis; sobre católicos membros da Igreja e hereges, que se separam, livremente, do Magistério universal da Igreja. Nem Campos, nem Ecône é a Sede de Pedro. Nem também o que está apenas materialmente em Roma, mas separado da “fé da Sede Apostólica” (Inocêncio III), deixou de “separar-se da Igreja pela natureza do seu pecado” (Pio XII, D.S. 3803). Porquanto, ensina Leão XIII: “É absurdo que presida na Igreja quem está fora da Igreja” (Satis cognitum, 37). Não se viola impunemente a verdade universal necessária, comum a todos, clérigos e leigos, e que nos mostra, de modo evidente, qual é a “única verdadeira religião”. Ela não é livre para cada um, nem no âmbito natural, nem no sobrenatural. “Quem não crer”, no único verdadeiro Deus, Cristo, “já está condenado” (Jo. 3,18), porque Ele é o “fundamento único” da Igreja (1 Cor 3,11).
Dr. Homero Johas