O Crucial testemunho católico do COETUS FIDELIUM

Julho de 2009.

Por Araí Daniele
A Igreja militante não pode perecer, mas pode falhar no testemunho da Fé, que é a sua vida. E hoje a Fé única e integral é confundida com outra que se apresenta como Católica, mas é só fruto de seu mais pérfido adultério, pois desvia do Reino de Cristo para o domínio do Anticristo. Nisto todos os católicos são responsáveis. O efeito demolidor das aberturas ecumenistas, pela ofensa a Deus e engano humano que representam, bradam aos céus. São os enganos da nova desordem mundial inoculados na Igreja desde o tempo de João XXIII, que para promovê-los convocou a sórdida perversão do Vaticano II. Depois da conclusão deste, ficou claro que se tratava de uma operação de reconciliação e “restituição” no mundo do juízo aos algozes de Jesus Cristo. Tal abominável traição da autoridade e posição universal e única da Igreja, tem sido reconhecida, apesar da vasta documentação dos fatos, só por um número limitado de fieis. E destes, poucos enfrentam essas aberturas de alcance ruinoso não só para a Igreja, mas para a humanidade.
Tudo isto devido à falta de união e renúncia a apelar-se aos recursos da Lei da Igreja, que restou desde então ou mal interpretada ou ignorada.
Visto, porém, que não pode haver outra solução para a defesa da Igreja de Deus que o recurso e o testemunho de Sua Lei, disto há que se ocupar, apontando em especial para o entendimento de três objetivos cruciais.
– A natureza do cargo papal, que representa a autoridade de Deus em terra.
– A recusa de quem, corrompendo essa Fé, é estranho a tal autoridade.
– A necessidade de união dos católicos para obter essa autoridade.
Testemunho das confusões iniciais
O Coetus fidelium precisa recuperar todos os passos incompletos e mesmo traídos da resistência inicial contra a falsa autoridade. Pode-se lembrar, por exemplo, o livro que foi distribuído na vigília da abertura do Vaticano II, sobretudo entre os Padres conciliares. Trata-se do “Complô contra a Igreja”, livro editado em várias línguas, de Maurice Pinay, pseudônimo que, devido à riqueza da documentação, certamente representa um grupo de prelados, talvez “um sindicato de cardeais”, como relatou então algum jornal.
Esse livro relata o processo histórico da perseguição da Igreja que foi aberta pelos papas conciliares e se tornou vítima do complô talmúdico através da operação conciliar. No seu exórdio diz que “a instituição que proclamasse contradições na Fé não poderia ser divina” e perderia toda autoridade.
Foi o que fez a mutação religiosa, disfarçada, mas radical, operada pelo modernista João XXIII, aberto às potentes lojas e sinagogas do mundo.
Isto em especial com o Vaticano II e a elaboração do documento “Nostra aetate”, bomba para abalar as bases da fé com uma inversão ecumenista.
Eis a herança legada a seus executores a fim de ser ampliada até concorrer para a formação de uma grande união religiosa que seria, ao nível religioso, o que as Nações Unidas são ao nível internacional, plano que segue a idéia da liberdade de consciência e religião da Pacem in terris, passando pelas idéias mundialistas de Paulo VI na Populorum progressio e Octogesima adveniens, até o plano ecumenista global que com João Paulo II assumiu forma operativa mundial e hoje aparece sob o nome de URI e agora contribui para a nova ordem mundial com a Caritas in Veritate de Bento XVI.
A incontornável questão de consciência
Visto o resultado deletério dessa demolição católica, apresenta-se para os fieis uma questão de consciência muito grave: um verdadeiro papa, cuja eleição e direção da Igreja é assistida pelo Espírito Santo, não pode presidir a tal destruição da Fé, a mais profunda e extensa da história e realizada com uma brevidade que o pior heresiarca do passado não teria conseguido.
Durante o Vaticano II houve a reação criada pelo “Coetus Internationalis Patrum“, que reunia centenas de consagrados, cardeais e bispos de todo o mundo para defender a Fé à luz da doutrina tradicional da Igreja.
Esta reação católica aos enganos do Vaticano II resistiu até o fim às insídias modernistas, mas com a pia ilusão de corrigi-las com a intervenção papal.
Eis a história crucial que o “Coetus Fidelium” hoje, à distância de mais de quatro décadas, deve conhecer para não repetir as mesmas confusões, mas para concluir que tais desvios e heresias só foram possíveis porque faltava então e permaneceu ausente a ação da autoridade papal.
Recordemos as palavras da justa reação católica.
No dia 16 de Outubro de 1965, na data da definitiva adoção pelo Vaticano II da Declaração Nostra aetate, quando a mentalidade ecumenista superou os conceitos católicos, o Coetus acusou:
«Uma declaração digna de um antipapa… Nenhum Concilio e nenhum Papa podem condenar Jesus, a Igreja católica, apostólica e romana, os seus pontífices (o libelo enumera 15 papas, desde Nicolau I (IX século) até Leão XIII) e os concílios mais ilustres. Ora, a declaração sobre os judeus comporta implicitamente tal condenação, e, devido à esta eminente razão deve ser rejeitada… Os hebreus desejam agora levar a Igreja a condenar-se tacitamente e a mudar de parecer diante de todo o mundo. É evidente que só um antipapa ou um conciliábulo (sic) poderiam aprovar uma declaração de tal gênero. É o que pensam como nós um numero sempre maior de católicos esparsos no mundo os quais estão decididos a operar no modo que será necessário para salvar a Igreja de uma tal ignomínia ».
Trinta movimentos católicos tiveram a coragem de subscrever esta acusação. Além disso houve a reação de muitos Padres: 10 abstenções mais 250 non placet. Outros documentos tiveram reação menor.
Tudo indica que por isto prevaleceu então uma tendência para adaptar a reação católica à revolução conciliar, segundo os lemas da Revolução francesa, aos termos de liberdade fraternidade e igualdade, de oposição democrática e não nos termos de defesa intransigente da Lei de Deus e conseqüente ruptura com o erro e o abuso, como sempre entenderam os papas e no começo do século o papa São Pio X.
A tendência fatal de conviver com erros revolucionários
Esta ilusão condicionou desde então a real resistência ao poder aparente que se apresentava no vértice da Igreja. E assim passou, sem uma oposição definida pela lei canônica, a ímpia subversão ecumenista enquanto do lado católico se pronunciaram até as mais vis idiotices, por exemplo ser melhor ter um papa herético do que nenhum. E cada grupinho se fechou nas suas próprias idéias de fidelidade e devoção, de modo que em pouco tempo foi desintegrada a verdadeira unidade católica, que agora urge restaurar.
Os católicos devem saber que o “Mistério da iniqüidade” não tem como causa primária os inimigos da Fé, mas o abandono de suas defesas.
São Paulo ensina: “antes do Mistério de iniqüidade deve vir a apostasia”. (E, após isso – comentário nosso -, segundo a Revelação, devemos aguardar a parusia de Nosso Senhor que virá para derrotar o Anticristo com o sopro de Sua boca.)
Ora, o vínculo da unidade católica está no Chefe que representa Cristo.
Mas hoje não se sabe nem mesmo definir com certeza o que é a autoridade papal, representante de Deus em terra. Considera-se até que o poder papal vem do conclave, que seria absoluto, mesmo se elege um modernista!
A resistência católica contra tal “conclavismo” se reduziu a bem poucos e infelizmente muito divididos e desarticulados. A perda do justo conceito de autoridade do Vigário de Cristo implicou uma desastrosa desunião.
A resposta para superar tanto desacerto vem da Igreja e se funda no Direito divino, pelo qual quem traz um novo Evangelho não deve ser recebido, mas anatematizado, pois, como São Paulo ensina, se condena com o próprio juízo – proprio juditio – (Tt 3, 9-10). Isto está no Canon 188, 4:
 
«Ob tacitam renuntiationem ab ipso iure admissam quaelibet officia vacant ipso facto et sine ulla declaratione, si clericus:
4 – A fide catholica publice defecerit.
A união necessária dos católicos para obter a autoridade legítima
Aqui foi considerado historicamente importante salientar que não faltou uma tomada de posição diante a tanto engano modernista e judaizante, mas que esta se quebrantou diante de um engano ainda maior: do dever de obedecer à vontade inovadora clérigos apóstatas como João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e II e agora um luterano do jaez de Bento XVI.
A subseqüente reação da parte de prelados corajosos, como os bispos Marcel Lefebvre e Castro Mayer, surgiu quando Paulo VI estendeu a peçonha conciliar à Santa Missa. No campo litúrgico a consciência sacerdotal de muitos padres sentiu-se profundamente ferida com as inovações, o que determinou uma mais ampla reação do Clero e do Laicato católico. Mas a falsa doutrina ecumenista também é grande ofensa a Deus.
A posição que exprimia o conceito católico pelo qual, só apurando as razões da suspeita da presença de um antipapa promotor de um conciliábulo, podia explicar tais desvios e demolições na vida cristã, foi desertada. Como se tal possibilidade, que se demonstrava real, não comportasse um desastre de dimensão inimaginável diante do qual os católicos não poderiam ficar inermes e ausentes, mas deveriam dispor uma defesa proporcional e sem fazer acepção de pessoas, mesmo de quem abusava do cargo papal.
O reconhecimento de um falso papa é fato iníquo pelas suas consequências e pecaminoso para quem conhece a Lei da Igreja, pois implica um falso testemunho; ver autoridade de Deus em quem corrompe a Sua Doutrina.
Portanto a recusa de quem, não defendendo a Fé, se demonstra privado de autoridade católica, é uma obrigação de fé e caridade católicas.
Nos anos que seguiram o Vaticano II, ficou claro que o libelo de acusação de 1965, do espírito conciliar, claramente “modernista” e “evolucionista”, e, portanto estranho à Fé católica, era fundado, pois se tornara evidente que só através de um supremo poder desviado e um conciliábulo proclamado ecumênico, mas manipulado por forças alheias e contrárias às verdades cristãs, teria sido possível urdir e aprovar declarações profundamente anti evangélicas e anti tradicionais; contradições ecumenistas a todo campo.
Não foi, porém, igualmente fundada a reação dos autores daquele manifesto que, partindo de uma suspeita legítima, deixaram de recorrer à lei da Igreja.
Além disso, essa reação que seguia a linha de uma acusação que, mais que legítima, constituía um dever, fracassou por não reconhecer que estando em jogo a Fé, até um papa legítimo podia e devia ser redargüido. E a Fé foi a partir de então cada vez mais ofendida e em modo escandaloso, até hoje.
Foi assim que, não tendo aquele testemunho sobre os perigos que pendiam sobre a Igreja seguido seu curso católico e canônico, os chefes conciliares passaram a operar além de todo limite e o que restou do testemunho católico ficou em grande parte tristemente humilhado e ruinosamente dividido.
A visão católica: um Papa católico não pode continuar o Vaticano II
Faltam talvez à Igreja instrumentos legais para impedir a seus inimigos e demolidores de operarem em nome da mesma Igreja? Não certamente, porque não podem faltar ao Corpo Místico de Cristo, instituído perfeito pelo Espírito Santo, os meios suficientes para a sua defesa, faltaram, porém, lucidez e coragem dos filhos da Igreja para defendê-la nessa hora de paixão.
Note-se a incongruência: vasto número de católicos em toda a terra está agora convencido que o Vaticano II contem erros e heresias e causa a demolição da Igreja. E no entanto a hierarquia que o promove abertamente é aceita passivamente.
Concluindo
Uma multidão aceitou até hoje quem e o que destrói a Fé por obediência “fiel”! Diante de “papas” festosamente reconhecidos pelo mundo pareceu “invencível” o impulso de aceitá-los sem resistência. Podem, porém, os católicos que acusam as heresias da nova igreja conciliar, depois desta ter corrompido os povos, continuar a aceitar sem limite de tempo tais heresias difundidas como doutrina católica? Podem aceitar que esta nova igreja se apresente como católica e seus chefes como enviados de Deus? Podem aceitar que um próximo conclave eleja um “papa” para continuar a obra nefasta do Vaticano 2? Não é talvez verdade que os católicos têm o direito de considerar não católicos os promotores de heresias, como sejam os ecumenistas conciliares, questão levantada publicamente também pelos Bispos Lefebvre e Castro Mayer?
A inconsistência na fé que implica omissão na defesa da Igreja, edificada ao preço do precioso Sangue de Jesus Cristo, não comporta culpa diante de Deus?

A Igreja precisa de um Chefe que represente Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, tudo o que destrói a união para obtê-lo é deletério e culpável.

A Sede de Pedro espera a presença de um papa católico e não mais conciliar, porque Deus quer o Papa para a confirmação da Fé íntegra e pura e jamais para a justificação da nova desordem ecumenista e conciliarista mundial. Os prelados que representam essa “ordem” não podem ter autoridade papal.
Urge, pois, que um maior número de católicos testemunhem, ao mais tardar na ocasião da morte do último papa conciliar, esta verdade para a honra da Igreja e a salvação própria e dos povos. Só o comum “non possumus” nesse sentido pode restaurar a união católica e absolver essa mísera geração.
Por isto há que ampliar este testemunho o mais possível porque não há outra saída; é o único termo imprescindível para a futura união dos católicos; não há outro, nele se joga o bem da Igreja e a própria salvação para quem pode e deve testemunhar a verdade católica; dever que concerne em especial os consagrados e o Coetus fidelium.