Os inimigos da Igreja

Abril, 25 de 2009

CARTA DE D. GERALDO DE PROENÇA SIGAUD, em monição prévia ao maçom Ângelo Roncalli.

Às vésperas da abertura do Concílio, Rocalli pediu a todos os prelados que iriam participar das reuniões que expressassem, por escrito, o que desejavam ver incluído na temática a ser tratada, a fim de facilitar os trabalhos preparatórios. A carta com a qual o bispo brasileiro, D. Geraldo de Proença Sigaud, respondeu ao pedido é impressionante, seja pela lucidez da análise do plano maçônico e do mal do qual a Igreja sofre, seja pela dificuldade em remediá-lo. Publicamos integralmente a primeira parte, comprometendo-nos a completar a publicação no próximo número. Lembramos que D. Sigaud fundou, durante o Concílio, o Coetus Internationalis Patrum, organização que reunia os padres antimodernistas, dentre os poucos que buscavam frear o processo revolucionário, destinado a prevalecer.

Jacarezinho, 22 de agosto de 1959.

Eminentíssimo Senhor,
Em resposta à sua carta de 18 de junho, na qual pede meu parecer sobre os assuntos a serem tratados no próximo Concílio Ecumênico, apresento com grande humildade algumas coisas que julgo de particular relevância, sendo meu desejo, não obstante, de não acusar ninguém ou criticar meus superiores. Não falarei de questões dogmáticas ou jurídicas, pois destas certamente outros bispos se ocuparão. Tratarei, ao contrario, de algumas questões práticas e fundamentais para o futuro da Igreja, e, para tanto, solicito sua benevolência.

Premissa
Quando examino a vida católica atual, da minha Pátria e no resto do mundo, observo muitos indícios de vitalidade, úteis para a regeneração da alma de quem ama a Igreja de Cristo. Contudo, outros sinais causam grande preocupação. São de tal maneira graves que os julgo dignos da consideração da Comissão Pontifícia Preparatória, e, a seguir, do próprio Concilio.

Vejo os princípios e o espírito, da assim chamada Revolução, penetrar no clero e no povo cristão, assim como, faz tempo, os princípios , a doutrina, o espírito e o amor ao paganismo se difundiram na Sociedade Medieval, provocando a pseudo-Reforma. Muitos membros do Clero ainda não se deram conta dos erros da Revolução, e a esta não se opõem. Outros eclesiásticos amam a Revolução como uma causa ideal, a difundem, com ela colaboram, e perseguem os seus adversários, caluniando e obstaculizando seu apostolado. Muitos pastores os acusam. Outros, ainda mais, abraçaram os erros e o espírito da Revolução, e a favorecem, publicamento ou em segredo, como fizeram os bispos na época do Jansenismo. Quem acusa e reprova esses erros é perseguido pelos colegas, e chamado de “integrista”. Dos seminários, e da própria Cidade Santa, retornam seminaristas embebidos das idéias revolucionarias. Estes se chamam “maritanistas”, e são “discípulos de Theillard de Chardin”, “católicos socialistas”, “evolucionistas”. Raramente um sacerdote que refuta as idéias da Revolução é elevado à dignidade episcopal; por outro lado, é freqüente que isso aconteça àqueles que a promovem.

No meu modesto juízo, a Igreja deveria organizar uma guerra sistemática contra a Revolução, em nível mundial. Ignoro se isso aconteça. A Revolução, porém, age diversamente. Um exemplo desse empenho, sistemático e organizado, foi o brotar mundial, simultâneo e uniforme, da democracia cristã, [à qual se assiste] em muitas nações, a partir da grande guerra. Esse fermento penetra por toda parte. Anunciam-se congressos, tratam de criar Internacionais, e, em todas, logo o slogan é: “Façamos nós mesmos a Revolução, antes que os outros a façam”. Trata-se de uma revolução realizada com o consentimento dos católicos. Segundo minha humilde opinião, se o Concílio quer obter efeitos salutares, deve considerar, primeiramente, a atual situação da Igreja, a qual, como Cristo, se encontra indefesa nas mãos dos seus inimigos, – como dizia o papa Pio XII aos Jovens da Itália –, em uma nova sexta-feira da Paixão. É preciso considerar a batalha mortal que trava nossa Igreja em todos os âmbitos, conhecer a estratégia e a tática do conflito, ver claramente a lógica, a psicologia e a dinâmica, de modo a poder interpretar com certeza as operações características dessa guerra, a fim de organizar e conduzir uma guerra oposta.
  1. O nosso inimigo
    O nosso implacável inimigo, da Igreja e da Sociedade Católica, move-nos um combate mortal há mais de seis séculos. Com um avanço lento e sistemático, tem subvertido e destruído quase toda a ordem católica, a cidade de Deus, e, no seu lugar, tenta levantar a cidade do homem. Seu nome é Revolução.

Quais são seus objetivos? Construir uma ordem inteiramente humana, a Sociedade e a humanidade sem Deus, sem a Igreja, sem Cristo, sem uma Revelação além da razão humana, da sensualidade, da cupidez e da soberba. Para esse propósito, é preciso revirar desde os fundamentos, destruir e tomar o lugar da Igreja.

Esse inimigo, nos nossos dias, encontra-se em grande atividade, posto que está seguro da vitória nos próximos anos. Contudo, muitos chefes católicos desprezam minhas afirmações como se fossem alucinações produzidas por uma fantasia enfermiça. Comportam-se como os homens de Constantinopla, nos anos que precederam a derrota: cegos, não querem ver o perigo.

A. A Seita Francomaçônica
As atenções de todo o Concílio devem voltar-se para essa seita. Valem até hoje as palavras dos Sumos Pontífices, que a condenaram como totalmente oposta à Revelação, e, que nela caracterizaram a força principal da guerra contra a Sociedade Católica. Assistimos à realização, passados dois séculos da sua denúncia pelo Papa Clemente XII, dos pontos programáticos dessa seita. Porém, a esses falta ainda algo, que no momento se empenham seus adeptos em conseguir, com a máxima inteligência, perversidade, energia e lógica, ajudando velozmente. Assim, falta pouco para a total edificação da cidade do homem. Quantos anos de liberdade serão concedidos, ainda, à Santa Igreja? E, para a imposição da Nova Ordem Mundial ao mundo e aos Cristãos”?

Gostaria de apresentar [em testemunho disso] um fato gravíssimo que comprova a conjura mundial contra a Ordem Católica e sua iminente vitória, a menos que Deus deseje salvar a Igreja com um milagre, preparado em resposta às vossas súplicas. Trata-se da nota de um dólar americano.

Ao observar com atenção essa nota, o que vemos? No seu verso temos uma pirâmide, construída sobre uma grande planície inculta. As pedras que a compõem são quadradas e lavradas. O significado desse símbolo está indicado no dístico que se lê na faixa: Novus Ordo Seclorum. A pirâmide representa a nova humanidade, composta pelos iluminados da Maçonaria, simbolizados pelas pedras lavradas, na qual serão transformados, pelo Supremo Arquiteto do Universo, os homens criados pelo Deus Criador. A base da pirâmide indica a data de fundação dessa Nova Ordem Mundial: 1776, ano de ereção dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos são, portanto, a base dessa Nova Humanidade Maçônica. Falta à pirâmide o seu vértice: a Nova Ordem Mundial ainda não está completa, ainda que falte pouco. Porém, é certo que essa obra será concluída, porque sobre a pirâmide está colocado “deus”, não o Pai de Jesus Cristo, que é [para eles] o Criador cativo, mas sim o deus gnóstico, arquiteto; representado pelo olho no interior do triângulo radiante. Estamos em pleno dualismo gnóstico-maniqueísta, base teológica da seita maçônica. Esse “deus”, “annuit coeptis”, favorece aos iniciados, como se lê sobre a pirâmide: não a abençoa, mais sim, a constrói, a aprova, a condivide.

Essa alegoria, enfim, diz muito. Para nós, a Nova Ordem Mundial foi fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, e teve início há dois mil anos. A nova ordem, da qual estamos tratando, ao contrario, começou em 1776. é uma obra artificial que se opõe à natureza criada. Logo, porém, essa ordem terá sido completamente estabelecida.

Eis a questão vital para a Igreja: a Ordem Maçônica se opõe à Ordem Católica. Logo a Ordem Maçônica abrangerá toda a humanidade. E isto não obstante muitos chefes católicos não se darem conta, além de muitos atraiçoarem.

Depois de Leão XIII não se teve mais uma Encíclica sobre essa seita. O que se ensina sobre ela nas Universidades e Seminários? O que se diz na Sociologia sobre esse fato tão importante? O problema, na direção mundial ou regional da Igreja, é freqüentemente ignorado. Ali, há como que uma trégua [nos confrontos]. Nos estudos e cursos de formação dos sacerdotes não se diz nada dos programas [dessa seita], do sistema de luta de toda a sociologia maçônica, sua finalidade, espírito, meios, tática e estratégia [por ela adotados]. Um padre jesuíta, Berthelot, escreveu um livro no qual expõe a hipótese de uma colaboração harmoniosa entre a Igreja e a seita!

O perigo é extremamente atual. Os bispos argentinos o perceberam e conclamaram seus fiéis à luta. Em Brasília, percebem-se sinais de reuniões iminentes.

B. O comunismo
O comunismo é um outro inimigo da Igreja. A seita maçônica reúne os “burgueses”; o Comunismo organiza os “proletários”. Porém, a finalidade de ambos é um só: uma sociedade socialista, racionalista, sem Deus e sem Cristo. E eles têm um chefe comum.

C. O Judaísmo Internacional
1. Condenamos qualquer perseguição contra os judeus, seja por motivos religiosos, seja por causas raciais. A Igreja é contra o “antisemitismo’.
  1. Contudo, a Igreja não pode ignorar os acontecimentos, nem a clara afirmação do Judaísmo Internacional. Os líderes desse Judaísmo conspiram há séculos contra o renome católico, e, com meticulosidade e ódio infinito preparam a destruição da Ordem Católica, ao mesmo tempo em que constroem a Ordem do Império Mundial Judaico. A este, de fato, servem a Maçonaria e o Comunismo. As finanças, os meios de comunicação, a política mundial, estão, em grande parte, em mãos hebraicas. Considerando que são o maior expoente do capitalismo – deveriam, portanto, ser o adversário máximo da Rússia e do Comunismo –, todavia não temem este último, e, além disso, colaboram na sua implantação. Aqueles que revelam os segredos atômicos dos Estados Unidos: Fuchs, Golds, Gringlass e Rosemberg, são hebreus, e, também são os propagadores, organizadores e financiadores do Comunismo. Trata-se de uma questão que lhes diz respeito. Esta é a realidade. E isso deveria ser fator de ódio contra os Judeus? – Não! Mas, [são justas] a vigilância, a clareza de vistas, a batalha metódica e sistemática oposta, também, àquela outra sistemática e metódica desse “inimigo”, cuja arma secreta é “o fermento dos fariseus”, isto é, a hipocrisia.
    D. A Revolução
    O Judaismo Internacional quer arrancar, pela raiz, a Cristandade, e substituir-se a ela. Suas tropas são, principalmente, os Maçons e os Comunistas. O processo revolucionário teve início ao final da Idade Média; avançou durante o Renascimento pagão; deu grandes passos com a pseudo-Reforma; e, com a Revolução Francesa, destruiu a base político-social da Igreja; pensou ter destruído a Santa Sé, ao abater os Estados Pontifícios; debilitou a economia da Igreja com a secularização dos bens dos religiosos e das Dioceses, provocou uma gravíssima crise interna [na Igreja] com o Modernismo; e, enfim, com o comunismo, criou o instrumento decisivo para apagar da terra qualquer traço de Cristandade.

A maior parte da força da Revolução deriva de uma astuta manifestação das paixões humanas. O Comunismo criou a ciência da revolução, da qual são armas precípuas as paixões desenfreadas do homem, instigadas metodicamente.

A Revolução recorre a dois vícios, como força destruidora da Sociedade Católica, e, por outro lado, construtora da Sociedade Atéia: a sensualidade e a soberba. Essas desordenadas e subversivas paixões visam, cientificamente, a um fim preciso, e, se submetem à férrea disciplina de quem as move, a fim de destruir, até os alicerces, a Cidade de Deus, e, construir a Cidade do Homem. Aceitam, até mesmo, a tirania do totalitarismo, e toleram a miséria, para daí erigir a Ordem do Anticristo.

Alí encontra-se uma espécie de governo central, potente e informadíssimo, que dirige todo esse plano: uma central humana, instrumento de Satanás em pessoa.

Essa assim chamada “direita política”, tal qual o Fascismo e o Nacional-Socialismo, não passaram de fases de uma mesma guerra contra a Igreja de Cristo.

Geraldo de Proença Sigaud
Bispo de Jacarezinho
 

(Acta e documento Concilio Oecumenico Vaticano II Apparando Serie I,
Volumen II, Pars VII, P. 180 – 195.)